Os sintomas decorrentes das oscilações da bipolaridade podem tornar os relacionamentos muito difíceis, mas podem ser compreendidos e gerenciados para manter a estabilidade do relacionamento.
Pessoas com Transtorno Bipolar podem ter dificuldades em manter um relacionamento amoroso devido aos muitos sintomas que acompanham a doença. Os episódios de mania/hipomania e depressão podem dificultar a confiança e a segurança do casal e tornar muito desafiadora a relação. A doença também pode afetar outros aspectos da vida, incluindo emprego e as relações sociais, contudo, há inúmeras estratégias para lidar com estas questões e manter o relacionamento estável.
ABAIXO ALGUNS PONTOS QUE PODEM DIFICULTAR O RELACIONAMENTO, mas podem ser compreendidos e gerenciados:
OS CICLOS BIPOLARES
Uma pessoa diagnosticada com transtorno bipolar pode ter graves e proeminentes mudanças de humor e comportamento, o que chamamos de mania/hipomania e depressões. Esses ciclos bipolares podem tornar um relacionamento romântico muito desafiador. A medicação pode ajudar com essas oscilações, mas algumas pessoas podem interromper seus medicamentos por achar que já estão bem ou ter algum preconceito ao uso, deste modo, podem surgir eventos estressantes, como discussões e resultar na desestabilização do humor. O parceiro pode sentir que precisa ficar na ponta dos pés ao redor da pessoa com bipolaridade por medo de sobrecarregá-la e fazer com que seu humor mude. Muitas vezes a pessoa com transtorno bipolar pode não ter desenvolvido adequadamente habilidades saudáveis de enfrentamento para lidar com seus sintomas, com isto dificultar muito o bem-estar no relacionamento.
Os episódios depressivos podem levar a pessoas com transtorno bipolar a pensar que outros não o compreende, que está sobrecarregando quem está perto e que é melhor ficar sozinho, então se afasta acarretando mais sentimentos dolorosos. O isolamento vai dificultando as interações sociais e ficando com pouca ou nenhuma conexão.
Os episódios maníacos/hipomaníacos também apresentam seus desafios. A pessoa pode ficar mais desinibida e buscar comportamentos de risco que coloque a si mesma e os outros em perigo, criando mais conflitos interpessoais, por exemplo, comportamentos sexuais inapropriados, descontrole das finanças, uso de álcool e drogas. O transtorno bipolar afeta a sexualidade de várias maneiras, inclusive querer experimentar a liberdade e independência de um(a) parceiro(a) que acredita estar impedindo que se divirta.
A MONTANHA RUSSA EMOCIONAL
A desregulação emocional para a pessoa com bipolaridade também pode causar a desregulação no(a) parceiro(a) podendo viver em um estado de incerteza, insegurança, impotência e solidão podendo experimentar hipervigilância e se sentir no limite porque não sabe quando um episódio surgirá ou se essa pessoa pode romper o relacionamento sem motivo. Esta montanha-russa de altos e baixos é cansativa e desgastante, criando um estresse mental.
O TRANSATORNO EXIGE MUITA ATENÇÃO NO RELACIONAMENTO
Um(a) parceiro(a) pode gastar muito tempo e energia cuidando do outro com Transtorno Bipolar. Como resultado, as necessidades dessa outra pessoa podem não ser atendidas. Geralmente ficar atento às mudanças no comportamento do outro ou se tomou os medicamentos. Essa atenção excessiva às necessidades do outro pode deixar pouco ou nenhum tempo para que cuide de si mesmo e sentir que seus problemas não são importantes.
O ESTRESSE DE GERENCIAR OS SINTOMAS
Gerenciar os sintomas é uma tarefa diária necessária. Significa tomar medicação diariamente, fazer psicoterapia, buscar apoio externo e utilizar suas estratégias de enfrentamento. Conciliar todas essas questões pode ser desgastante e transformar em estresse toxico. Alguns medicamentos podem até levar à sonolência ou dificuldades sexuais, o que pode afetar a qualidade do tempo que passa com o (a) parceiro(a).
COMPORTAMENTOS AUTODESTRUTIVOS
Aqueles com transtorno bipolar estão em maior risco de comportamentos autodestrutivos. É comum apresentar comportamentos impulsivos, como explosões agressivas, gastos excessivos, abuso de substância, comportamentos alimentar desregulado, promiscuidade sexual. Além disso, o suicídio é um risco durante um episódio depressivo. Os parceiros acabam sendo colocados em risco também.
HIPERSEXUALIDADE
A promiscuidade sexual e o aumento da necessidade de sexo podem ocorrer durante um episódio maníaco/hipomaníaco. O indivíduo, que não está tratado adequadamente fica com deficiências na capacidade de gerenciamento desses impulsos e pode não ser capaz de controla-los e preferir buscar o prazer imediato. Essa necessidade de prazer pode levar à infidelidade no relacionamento. Apesar da pessoa saber que está errado, não pode agir para sua satisfação. A infidelidade pode levar à quebra de confiança. O outro pode não estar disposto a continuar após o trauma da traição.
ROTINAS SE TORNAM DIFÍCEIS DE MANTER
Manter uma rotina é necessário para o manejo dos sintomas. Evitar gatilhos e garantir que você está levando um estilo de vida saudável são maneiras de diminuir o risco de mudanças de humor. A rotina necessária pode inibir a espontaneidade entre o casal, já que o parceiro também deve se ater ao horário do outro para evitar mudanças de humor. A pessoa com transtorno bipolar pode ter que recusar oportunidades de promover o relacionamento para garantir a adesão a tais hábitos.
ISOLAMENTO SOCIAL
O transtorno bipolar é muitas vezes mal compreendido. As pessoas podem receber julgamento ou preconceitos, o que pode levar à baixa autoestima levando a evitar a interação com outras pessoas. Isso pode tornar o parceiro socialmente isolado, pois o parceiro com transtorno bipolar não está disposto a passar tempo com seus amigos ou familiares. Além disso, a pessoa com transtorno bipolar pode ter visto relacionamentos passados falharem quando revelou seu diagnóstico. Como resultado, eles podem ser menos propensos a divulgá-lo para seu novo(a) parceiro(a), tornando difícil construir uma sensação de segurança e confiança.
DIANTE DE TANTOS DESAFIOS, É POSSIVEL MANTER UM RELACIONAMENTO?
Sim, é possível.
Ser diagnosticado com transtorno bipolar não impossibilita ter um relacionamento. Ter o diagnóstico não te define enquanto pessoa. No entanto, os sintomas que acompanham podem tornar desafiador manter a relação. Para ter um relacionamento bem-sucedido é necessário estar comprometido a gerenciar os sintomas, seguir rotinas, desenvolver uma boa comunicação, manter o tratamento farmacológico e psicológico em dia. Uma comunicação aberta e aceitação dos desafios da outra parte também são extremamente necessários.
A parte mais crucial é que um parceiro com transtorno bipolar reconheça como suas ações impactam os outros e se responsabilizar pelo cuidado próprio. Aqueles que desenvolvem as habilidades necessárias relacionadas à adaptação com a doença e faz corretamente o tratamento tendem a ter maior chance de sucesso nos relacionamentos.
Se você deseja ter um relacionamento, não se prive desse desejo por ter um diagnóstico de Transtorno Bipolar. CUIDAR BEM de você implica em muitas possibilidades de uma vida funcional e satisfatória em todos os sentidos.
Se precisar de ajuda fale comigo aqui.
Lucinê Costa e Silva – Psicóloga CRP 04/22623
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