Geralmente um incomodo rotineiro, uma pequena bagunça na casa, um motorista que corta outro no trânsito, uma pequena frustração e a irritação toma conta, bochechas avermelham, o pulso acelera, a tensão aumenta e de repente... bum... uma bomba explode. Reações assim, não estão necessariamente relacionadas ao transtorno bipolar, mas a irritabilidade excessiva é um dos sintomas da bipolaridade.
COMO A RAIVA SE APRESENTA NO TRANSTORNO BIPOLAR?
Irritação e raiva podem ser respostas normais e até saudáveis a certas provocações ou situações, como acontece com muitas emoções, no entanto, as pessoas com transtorno bipolar, são mais vulneráveis a esta emoção e podem apresentar reações extremas. Todas as pessoas podem ficar com raiva, mas a perda do controle, chegando a reações extremas pode ser uma característica do transtorno Bipolar.
O humor irritável está entre os principais critérios diagnósticos para os episódios de Mania/hipomania, podendo aparecer também nos episódios depressivos. Isso se deve às alterações cerebrais relacionadas à regulação do humor.
Se não for controlada, a raiva e a irritabilidade, podem ter efeitos dramáticos e devastadores. A vida familiar e as amizades sofrem. Pode haver graves repercussões no ambiente de trabalho e, por vezes, até causar problemas com a justiça. “O que eu acabei de fazer?”, é o questionamento que muitas pessoas dizem após uma explosão, gerando frustação, tristeza, culpa, vergonha o que pode contribuir para um episódio depressivo.
A RAIVA AFETA A SAÚDE FÍSICA?
Além de causar danos sociais e nos relacionamentos, a raiva pode ter efeitos fisiológicos importantes. A raiva é uma resposta de luta ou fuga do nosso corpo. Esta resposta está relacionada à liberação de hormônios do estresse, como adrenalina e cortisol. Ao longo do tempo, níveis elevados de hormônios do estresse causam desgaste em todos os sistemas do corpo.
AS MUDANÇAS DE HUMOR E A RAIVA
Controlar as mudanças do humor bipolar através da medicação pode diminuir as explosões de raiva e a irritabilidade excessiva, mas isso não significa que as emoções associadas desaparecerão completamente, é aí que as técnicas de regulação emocional para o gerenciamento da raiva se fazem necessárias.
Também é importante aprender a identificar os gatilhos e sinais mentais e físicos que desencadeiam uma explosão iminente. Aprender a separar as reações emocionais apropriadas daquelas associadas a uma mudança de humor – em qualquer direção – requer insight desenvolvido ao longo do tempo.
COMO GERENCIAR A RAIVA BIPOLAR?
1) Monitoramento
Monitore os vários aspectos de seus sentimentos e comportamentos regularmente. Observe se está chateado com alguma coisa. Com o quê? Por quê? Observe quais são os gatilhos que disparam a emoção para melhor gerenciá-los.
Considere também se você está se sentindo ansioso, dormindo normalmente, bebendo álcool, experimentando sintomas de mania/hipomania ou depressão e tomando medicamentos conforme prescrito.
Pesquisas apontam que o sono é um dos marcadores iniciais mais sensíveis de uma mudança de humor – até mesmo uma noite de sono perdido pode ser um gatilho para a raiva.
2) Faça uma Pausa
Quando em uma situação que pode gerar raiva e a temperatura emocional começar a aumentar, você pode se dar um espaço, afastando-se do ambiente ou da pessoa, fazer técnicas de respiração, tomar um copo de água, um banho ou se distrair com algo diferente que lhe faça bem. Essas alternativas podem interromper a resposta fisiológica da raiva. Após a excitação da emoção reduzir, faça uma reflexão sobre a situação e retorne à situação ou ao assunto após encontrar formas apropriadas de resolvê-los.
3) Psicoeducar quem vive perto de você
A comunicação aberta e honesta, juntamente com uma melhor educação sobre bipolaridade para todas as partes, faz uma enorme diferença. A terapia familiar pode ser útil para promover a discussão sobre o transtorno e questões relacionadas, explorar a dinâmica familiar e os padrões de comunicação e desenvolver uma estratégia de resposta unificada.
As famílias podem aprender sobre os sinais de raiva bipolar e trabalhar juntas para elaborar um plano sobre o que fazer para identificar e gerenciar melhor esses sintomas quando eles ocorrem. Isso pode significar se afastar de um ente querido quando ele ou ela está começando a ficar com raiva ou remover crianças pequenas de uma cena potencialmente prejudicial.
Reconhecer que as palavras e ações de alguém derivam de uma mudança de humor bipolar e aprender a não levar para o lado pessoal pode ser difícil o suficiente para parceiros adultos, muito menos para os membros mais jovens da família. Pode ser útil ter uma discussão apropriada para a idade com as crianças sobre o seu diagnóstico.
Você pode reconhecer que essa é uma condição médica e, porém não é como ter uma febre ou uma erupção na pele, os sintomas do transtorno bipolar são distúrbios comportamentais devido às alterações de humor que aumentam ou diminuem. Explique às crianças para que elas saibam que você pode estar um pouco mais irritado, e para que elas entendam que isso não é culpa delas.
É claro que nem todo comportamento irritável é culpa do diagnóstico. Contudo, não gerenciar a irritabilidade ou a raiva excessiva em qualquer circunstância só traz prejuízos para as relações sociais e familiares.
4) A raiva pode ser legítima
Sim, muitas vezes a raiva não está apenas relacionada às alterações da bipolaridade. Há situações em que a raiva é legítima, mesmo nestas situações é necessário o gerenciamento, pois a raiva leva a um impulso de verbalização e até mesmo de agressão que pode trazer grandes prejuízos. É preciso desenvolver habilidades para se ter uma discussão calma, franca e focada nos problemas percebidos, nunca no momento que em a irritabilidade sintomática ou a raiva pela situação se instalarem. Uma situação de trânsito, por exemplo, que é algo que acontece de forma inesperada, é preciso ter essas habilidades já desenvolvidas para evitar danos.
5) Redirecione os impulsos raivosos
Ao perceber com antecedência que a temperatura da emoção está aumentando, você pode redirecionar o seu impulso para alguma atividade como um exercício aeróbico, uma corrida, um treino na academia, uma música em som mais alto. Avalie o que funciona para você e pratique. É você que está no comando e não a bipolaridade.
6) Se mexa
Sim, praticar alguma atividade física colabora muito para a regulação do humor.
7) Faça um plano de proteção com membros da família
A melhor maneira de casais e famílias enfrentarem ou evitarem explosões de raiva é planejar com antecedência.
Todos nós precisamos de um kit de ferramentas cheio de estratégias saudáveis sobre como lidar com o humor e isso é mais bem desenvolvido com antecedência. Fazer com que todas as partes aprovem um plano de ação com antecedência é essencial. Você pode dizer para o familiar o que você acha que deve acontecer quando a raiva começar a tirar o melhor de você. Por exemplo, o familiar deve sair ou deve lembrá-lo sobre suas estratégias de enfrentamento. A chave é chegar a um acordo prévio sobre o que está bem. Isso pode ajudar a situação a correr mais tranquilamente, bem como diminuir a culpa ou outros sentimentos de mágoa mais tarde para todas as partes.
8) Treine seu cérebro
A pesquisa clínica demonstra que o treinamento cognitivo comportamental de gerenciamento de estresse pode ajudar as pessoas a aprenderem a reduzir a hostilidade e a raiva. Diante de uma situação difícil faça essas perguntas:
A situação é importante para você?
Sua raiva é apropriada diante dos fatos da situação?
A situação é modificável?
Vale a pena agir?
Se você respondeu - NÃO - para as perguntas acima, é um sinal para modificar a sua ação ou não se envolver.
Se a resposta para cada pergunta for SIM, você pode tomar medidas para direcionar o gatilho da sua emoção — de uma forma proativa em vez de destrutiva.
Isso incluiria a resolução de problemas para mudar a situação ou abordar as outras pessoas envolvidas para discutir assertivamente como o comportamento delas está afetando você e o que você precisa que aconteça de forma diferente.
Esse treino não é fácil, mas com o tempo o cérebro vai desenvolvendo estas habilidades de pensar sobre as situações, o que favorece respostas comportamentais mais positivas.
CUIDE BEM DE VOCÊ
Lucinê Costa e Silva – Psicóloga - CRP – 04/22623
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